See Red Women’s Workshop

Stevenson, Prue; Mackie, Susan; Robinson, Anne; Baines, Jess

See Red Women’s Workshop

2017 London
Four Corners Books
Editora

O livro See Red Women’s Workshop foi livro publicado pela primeira vez em 2016 pela Four Corner Books em resposta à grande procura por parte de exposições das obras criadas pelo núcleo feminista com o mesmo nome. A sua publicação apela não só a designers mas a quem queira conhecer o movimento feminista londrino através de uma visão feminista.

A ideia da formação deste núcleo surgiu em 1973 com Prudence Stevenson, Julia Franco e Susan Makie. Elas sentiram que durante o período em que estudavam o seu trabalho era visto como inútil pelos seus professores, os quais consideravam que elas sairiam da faculdade apenas para ser mães e não davam qualquer valor à sua voz. Assim, com o objetivo de desafiar estereótipos e incentivar outras mulheres a questionar as normas sociais, bem como mudar o paradigma da obra de arte como algo apenas com a função de ser exposto, convocam – através de um convite publicado na revista Women’s Liberation – mulheres com um background artístico para a formação de um grupo que combatesse as mensagem e representações sexista da mulher nos media. É assim formado o Women’s Image Collective, mais tarde conhecido por See Red Women’s Workshop.

Este livro sobre o coletivo começa com um prefácio que o contextualiza historicamente. Este é da autoria da historiadora, escritora e socióloga Sheila Rowbotham, apresentada no livro através de uma nota no final do seu texto que dá a conhecer os livros que esta publicou. O início da década de 1970 foi marcada no Reino Unido por uma explosão de projetos artísticos que surgiram devido a uma grande atividade política e sentido de comunidade impulsionado pelo Women’s Liberation Movement. Com o objetivo de alterar mentalidades e abalar políticas, muitos grupos viriam a criar workshops (no sentido de oficinas, ateliers, espaços de trabalho) em locais devolutos, com o intuito de imprimir cartazes que viriam a ajudar na divulgação da sua causa (a nova esquerda). See Red Women foi um deles. Este coletivo surgiu com o intuito de promover a libertação feminina não só através das mensagens dos cartazes por elas produzidos, mas também através da partilha de conhecimento – como na criação de imagens e impressão em serigrafia – junto de todas as outras mulheres que acreditassem na sua causa e que nela quisessem participar.

A seguir ao prefácio são apresentadas as memórias deste coletivo, de forma cronológica e acompanhadas de documentos e objetos que o marcaram. Estas memórias são um relato daquilo que foi o movimento feminista inglês, nomeadamente a criação e integração das várias vertentes feministas e combate a novos preconceitos, como o de raça, classe e sexualidade, e consequente aumento da violência face às mulheres. Estas diferentes problemáticas viriam a ser integradas com a troca de impressões e experiências vividas pelas mulheres que passavam pelo coletivo.

Não só são abordadas as questões sociais vividas naquele momento como também questões relacionadas com o funcionamento interno do workshop. Estas incluem as dificuldades logísticas associadas ao espaço de trabalho, que foi sempre cedido por outras organizações feministas. As necessidades associadas à produção de cartazes em serigrafia entravam em conflito com o funcionamento destas estruturas; a falta de espaço e a má ventilação tornaram-se questões constantes e presentes durante a maior parte da vida da organização. Só em 1984 conseguiram um espaço adequado, ao partilharem espaço com a organização Women in Print, impulsionado graças a subsídios atribuídos pelo Greater London Council. Além de melhores instalações, esta localização era também um local mais seguro para o workshop, uma vez que os antigos locais eram frequentemente alvos de ataques de extrema-direita e Neo-Nazis. 

No livro são também apresentadas as formas como as decisões eram tomadas coletivamente e como elas procuravam gerar um lucro essencial para a sobrevivência do coletivo. Os objetos por elas criados presentes ao longo do livro, estão acompanhados por uma legenda que explica a sua origem e contextualiza a mensagem transmitida. Para tal, o grupo opta pelo recurso ao humor para que, não só os seus ideais fossem assimilados com maior facilidade como também impulsionasse uma maior venda do objeto gráfico produzido.

O See Red Women’s Workshop viria a terminar em 1990, assim como muitos outros coletivos feministas. Este foi um momento em que a produção digital se tornou norma e a produção manual deixou de ser viável. Foi também nessa altura que se observou uma dissipação do movimento feminista londrino; como se poderia ler numa frase publicada no Outwrite – jornal produzido por um coletivo feminino na década de 80 que se dedicava no desenvolvimento do feminismo pelo mundo)citada no livro: “Massas de mulheres, mas onde está o movimento?” (“Masses of women, but where’s the movement?”) (p. 32). Em todo o caso, o  coletivo já vinha perdendo a sua voz nos anos anteriores à sua extinção. Isso deveu-se a uma mudança nas suas integrantes, que traziam consigo uma visão distinta das suas fundadoras. Mas também ao facto de que, apesar de todas ansiarem defender diversas causas, apenas uma delas tinha conhecimentos de design gráfico. Isso fez com que a partir de 1983 nenhum novo design fosse produzido. 

As cores garridas e a tipografia com traços mais contemporâneos deste livro conjugam-se perfeitamente com os objetos gráficos nele contidos. Estes ainda hoje se mantêm atuais, desde o seu tema ao seu visual intemporal, porém característico do seu tempo. Toda a publicação mostra um grande apreço pelas imagens e utiliza todo o potencial de um formato maior e de um papel de maior gramagem para as expor. Apresenta os cartazes produzidos pelo workshop quase em tamanho real, porém, parte da informação é perdida quando existem imagens em spread, em especial cartazes, uma vez que estes contêm muita informação e apresentam muitas vezes uma figura central. 

Durante a leitura deste livro apercebemo-nos do carinho que as autoras tinham por este coletivo. Elas valorizam não só todas as suas integrantes como reinforçam a ideia de que não existe uma única autora para estes objetos. Pelo contrário, estes são o resultado de um trabalho coletivo. Como tal, todo o texto do livro é escrito na primeira pessoa do plural e todas as integrantes são nomeadas numa única página. O nome das autoras apenas é revelado nas últimas páginas do livro. A escrita mais acessível associada a uma proximidade estabelecida com o leitor remete à ideologia feminista e ao See Red Women’s Workshop, que como este livro, se declarava aberto a todas as mulheres.

Recensão de:
Lara Agostinho

Licenciatura em Design de Comunicação, FBAUL

Disciplina: Estudos em Design, 2022-23